domingo, 24 de maio de 2009

'Curto-te bué'

Que prova de amor poderia ser maior do que ouvirmos do nosso 'mais que tudo' a frase: 'curto-te bué'? Também tínhamos a 'curto-te molhos' ou a 'curto-te tótil', mas nada era tão importante para contarmos às amigas do que o 'curto-te bué'.

Era sinal que tínhamos encontrado o amor da nossa vida, que era para casar ou (pior): que estava na altura de fugir, porque o outro já queria mais do que nós.

Mas esta foi uma frase que perdurou anos e anos. Ainda hoje estas palavras se ouvem, mas separadas. Mais o 'bué', é certo. Aliás, o 'curto' até já parece um bocadinho 'cota'... quanto mais o 'curto' relacionado com alguém.

Eram palavras que os nossos pais (que muitos deles já são avós hoje em dia) não 'curtiam' ouvir. Não nos entendiam se nos viam com um rapaz e, ao perguntarem-nos já chocados, se era nosso namorado, nós respondíamos: 'Não! É só uma curte!', sem perceber que podiam ficar mais descansados, uma vez que não se passava de beijos.

O que é que isso queria dizer, questionavam-se. Tal como agora: perguntem lá a um teen se já teve alguma 'curte'. O que é isso? (tal como os nossos pais). Agora só querem namorar a sério e ter sexo depressa. Isso é crescer.

Mas por esta ordem de ideias, e se eles é que fazem a mesma pergunta que os nossos pais, quem é que está velho???

terça-feira, 19 de maio de 2009

O Markl Emprestou-me Porque Se Encaixa Perfeitamente

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. 'Quem?', perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: 'Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...' era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.


Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas,lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.

Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos:Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção. Confesso, senti-me velho... Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.

Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo 'Moleculum infanticus', que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de 'terno' nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.

Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração 'rasca'... Nós éramos mais a geração 'à rasca', isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos. Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta. Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.'

(Nota: ...os chocolates não eram gamados no 'Pingo Doce'... Ainda se chamava 'Pão de Açúcar'!!!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Onde estás ó Zé, yô?

Com o novo acordo ortográfico, a Ana Faria e os Queijinhos Frescos nunca teriam existido!

'Onde estás ó ZéÉ / Vem brincar p'raqui / Estou no balancéÉ / E a lição já liiii / E o que fizeste ao 'i'? / Tirei-o do 'lete' e 'púzio' no 'caféi'!

Nem p
ensar! Não pelos erros ortográficos, extremamente bem explicados, e pela 'delicadeza' da nossa actual ministra da educação Maria de Lurdes (porque nós apanhámos senhores como o Carneiro).

Apenas porque esta música (tão nossa conhecida) não tem 'yés' e 'yôs' pelo meio. Não há 'bués', 'tá-se' ou
'mô', de 'meu amor'.

Conclusão: quem nasceu já nos anos 90 tem muito mais tempo do que nós, os anteriores. E porquê? Só o tempo que eles poupam em palavras inteiras vale uma vida!...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

'Geração de Ouro'

Não se pode chamar a dois ou três gatos pingados... ‘Geração de Ouro’.

‘Geração de Ouro’ foi a que nos levou aos ‘píncaros’ (outra palavra tipicamente trintona) em finais de 80 / inícios de 90. Não tínhamos nenhum Cristiano Ronaldo... mas também não precisávamos dele.


Tínhamos Figo, Rui Costa, João Pinto, Fernando Couto, Capucho, Brassard, Paulo Sousa, Jorge Costa.... e Peixe.

O quê? Tu que tens 14 / 15 anos não sabes quem é o Peixe? Foi apenas considerado o melhor jogador do Campeonato do Mundo Sub-20 de 91.

O quê? Tu que tens 14 / 15 anos não fazias ideia que já nessa altura havia campeonatos do mundo de júniores?

Até te digo mais: realizou-se em Portugal... e acreditas que não se construiu nenhum estádio para isso? Acreditas que foi o nosso Bi-Campeonato, depois da também vitória do Mundial Sub-20 de Riade’89 (Arábia Saudita)? Acreditas que na final do Portugal’91 (contra o Brasil) VENCEMOS? Acreditas que o Estádio da Luz (o antigo, claro...) levou cerca de 140 MIL pessoas bem apertadinhas?

As ruas encheram-se com as nossas cores, buzinas e muita euforia. Esta sim, foi uma ‘Geração de Ouro’! Estes foram anos felizes para o futebol português!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vasco Granja e a Checoslováquia

Quem não se lembra dos bonecos animados checoslovacos que tínhamos que 'gramar' antes de conseguirmos ver apenas cinco minutos de Bugs Bunny?

Foi assim a nossa infância: a aquelas 'coisas' de plasticina a mexerem-se de um lado para o outro, a nossa incompreensão em relação ao que estávamos a ver e as explicações do 'mestre' Vasco Granja.

E acho oportuno escrever sobre isto hoje, uma vez que Vasco Granja faleceu na madrugada de 3 para 4 de Maio. Esta é uma singela homenagem a um homem que todos os trintões reconhecem.

E para acabar... aposto que nenhum jovem de 14/ 15 anos sabe sequer que a República Checa e a Eslováquia já foram UM e apenas UM país: a Checoslováquia dos bonecos animados.